quinta-feira, 17 de março de 2011

A.S. (Ante scriptum ): Esse é um texto de opinião.

Formadores de opinião?


                O que um jornalista e um professor têm em comum? Além de serem profissões que não são reconhecidas e muito menos bem remuneradas, são duas categorias que tem o objetivo de informar, e, mais que isso, formar opinião. Será? Quem cursa jornalismo aprende desde o primeiro período que todo jornal tem um dono e uma linha editorial que deve ser seguida. Além desse primeiro clichê, sabemos também que o nosso dever é informar, então a opinião não deve ser dada, assim como a adjetivação não deve ser feita.
                Partindo dessas duas premissas, que tem como exceções as famosas colunas e editoriais, lugares reservados à opinião, todo o resto deve ser livre de julgamento. A terceira premissa fala exatamente sobre a frase anterior: uma matéria nunca será escrita livre de julgamento pois cada um tem a sua bagagem e a sua vivência prévia, mas é importante tentar ser o mais imparcial possível. Saindo um pouco do universo do jornalismo impresso, a televisão é considerado um meio ainda mais forte no quesito formação de opinião. 
                Os jornais mais sérios acabam sendo reservados para as classes média e alta, vide índices de analfabetismo, fazendo com que a televisão seja o meio mais acessível à informação. Nas universidades uma grande massa aprende a odiar a Rede Globo pelos clássicos exemplos de alienação durante o período militar e afins.
                Nos corredores das universidades os pseudo-intelectuais revoltados soltam as suas mágoas em relação às notícias dadas pela mídia de forma tendenciosa, causando assim a tão comentada alienação... Mas quando chega o fim de ano, na seleção para ser estagiário da emissora, centenas lutam pela vaga, inclusive aqueles que pregavam a verdade acima de tudo. Vontade de fazer um mundo melhor? Ou um currículo com a experiência de ter passado pela maior emissora do Brasil?
                O texto não tem como objetivo questionar a Rede Globo ou o jornalismo, mas o fato que todo o discurso dos estudantes de jornalismo é muito bipolar. Então os 'focas' questionam a falta de alguém que se imponha às grandes empresas que sustentam as redes de televisão, os jornais e as rádios por meio dos espaços publicitários. Assim, o curso parece sempre estar à espera de alguém que enfrente, que tenha coragem para falar algumas verdades, e quando isso acontece, o resultado é mais uma vez decepcionante.



                O vídeo fala por si só. Rachel Sheherazade ganhou da Tv Tambaú um espaço para fazer comentários no estilo editorial uma vez por semana. Esse espaço é o que todo (bom) estudante de jornalismo gostaria de ter. Um espaço para questionar algo e poder ser ouvido pelas massas, para criticar, para gerar reflexão, podendo ser ouvido por mais do que aquelas cinco ou dez pessoas que podem (ou não) acessar o seu blog.
                A palavra que mais expressa a minha opinião sobre o texto é... Louvável. Ou seja, digno de respeito. Ela pode ter sido extremista em alguns momentos, pode também ser em algumas partes um pouco populista, mas, no final, é um ato de coragem falar tantas verdades ao vivo, no mínimo. Criticar as cervejarias, criticar o governo, criticar as músicas e os artistas baianos? Não é uma coisa que se vê todos os dias.
                Generalizando ela deixa de generalizar e o que parece contraditório pode até fazer sentido. Sheherazade fala do carnaval em geral, o que pode revoltar alguns pernambucanos, por exemplo, que sabem que o carnaval no Estado não é pago, diferentemente do que acontece na Bahia. Mas e a parte que ela critica a falta de ambulâncias quando elas são necessárias?
E o policiamento?. Comentando de uma forma ampla, um grande argumento é formado e se mostra aplicável à inúmeros carnavais nos diferentes Estados.

                O que a jornalista tenta fazer é procurar o lado B, o tão almejado objetivo jornalístico. Se pouco se explora o lado ruim dos fatos ou a razão pelas quais as coisas ruins acontecem no meio ambiente, por exemplo, é porque isso não vende tanto quanto mostrar um corpo atirado no chão. A violência existe, isso é um fato, mas quem mostra o porquê? A fome existe, outro fato, mas ninguém procura as causas. E todas as catástrofes que acontecem hoje?
                E o carnaval, uma festa que os brasileiros amam? Será que não é importante também mostrar um outro lado? Qual é então o grande problema de mostrar o lado que o tão amado carnaval não é uma festa genuinamente 'democrática', que é de grande lucro para poucos e que, apesar de tudo, é uma tentativa de pão e circo?
                Há quem diga que 'no carnaval são gerados milhares de empregos' e que 'as pessoas merecem se divertir também'... E a jornalista não questiona nada disso, não se diz que o carnaval deve ser abolido, é só uma crítica a como ele acontece atualmente. Ela inspira a reflexão sobre uma realidade escondida atrás da empolgação do carnaval. E se gerar reflexão não é um desejo dos estudantes de jornalismo, eu não sei o porquê da escolha do curso.
                Se quando finalmente podemos levar à população uma outra visão, os estudantes de jornalismo acham que ela só fala absurdos, então... Qual é mesmo o nosso objetivo?

P.S.: Eu AMO o carnaval, mesmo concordando com tudo o que é dito (discordando em algumas coisas pelo modo como são ditas) e adoraria trabalhar na Rede Globo.

Luiza Assis

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